quarta-feira, 10 de março de 2010


.frio amanhecer.

estava a nascer o sol. eu vinha quase de olhos fechados pela rua deixando me guiar pelos meus pés gelados dentro daquelas sapatilhas de pano. senti e sei que contei todas as pedras que a calçada tem, mas sem olhar. estava frio, mas tinha-se passado a noite. e depois dessa noite o sol espreitava ainda um pouco envergonhado por algumas ruelas, batendo na cal branca que reveste as casas e aquecendo um pouco o olhar e rapidamente também o coração.
e é nesse momento em que tudo é tão bonito em redor que se sente a falta de um abraço que complete a pintura que está à nossa frente trazida pelo amanhecer. um abraço. um abraço de olhos fechados e de alma cheia. sem pressas, acompanhando o ritmo lento do sol que nasce. um abraço que aqueça mais do que esse sol ainda tão frio e preguiçoso. um abraço que nos leve até casa sem medo. sem medo da solidão, do vazio do nosso quarto e do frio dos lençóis.
mas tive que me contentar com o os pequenos raios de luz que batiam na cal branca e com o céu azul clarinho com nuvens salmão. e segui pela calçada, fria, arrastando-me a mim e aos meus fantasmas. abri a porta de casa e antes de entrar respirei uma última vez o ar daquele amanhecer, que de triste não tinha nada, estava apenas incompleto.

10.03.2010
rabiscos.


4 comentários:

ag disse...

e eu acabei de suspirar agora ao acabar de lê-lo. nossa, como me identifiquei com isto agora. está tão lindo inês, fiquei mesmo sem palavras! porra.

. disse...

andar ao amanhecer em évora,é assim. :)
meu andré <3 agora também me faltam as palavras!

ag disse...

é que sempre que leio alguma coisa tua fico com uma vontade enorme de escrever. e efectivamente fi-lo. mas desta vez foi triste. olha que eu espero muito que venhas, mesmo, mesmo muito :')

神龍 disse...

...
fiquei a divagar nas tuas palavras...
...
estou assim meio... como dizer?...
sem palavras...
sinto-me meio impotente, como que um leitor a querer entrar no livro que acabou de ler para poder fazer parte, mas que sabe que não pode e que não consegue...
enfim...
...